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Motim Bafro é a Bahia em São Paulo

Matéria escrita por Jhonnã Bao.

Formada em Comunicação Social pela Universidade Paulista. Jhonnã é atriz, escritora e artista realizadora da periferia de São Paulo.


No dia 29 de outubro aconteceu a 2ª edição da Motim Bafro (Festival Multiartístico Afrobrasileiro On-line) de forma presencial no ateliê Casa Crespa, que também contou com transmissão simultânea por meio do YouTube e do Instagram. E como uma boa festa periférica, teve muita cerveja, comida, close e beleza, música, dança, performances, fechação, chuva e batida policial.

Foto: Tiago Alexandre (@_tiggaz_)


Antes de contarmos um pouco sobre a experiência desta 2ª edição do festival, é importante voltarmos para onde tudo começou. Em entrevista exclusiva Pimentel (baiana, produtora e MC) nos disse que o festival nasceu da união de três festas, a AfroSom, a Ocupação Baiana e a Motim Baiane, que devido à pandemia de covid-19 correram o risco de serem canceladas, porém, a partir do insight de Pimentel, que atuava como produtora dos três eventos, foi percebida uma oportunidade de juntá-los e fortalecê-los em um movimento unificado: a Motim Bafro. Mas, como um movimento perspicaz não se faz com apenas uma mão, Pimentel aliou-se a Albert Magno, Mana Bella, Luana Galdino e Valéria Zion, que também atuavam como produtoras em alguns dos eventos citados acima, e unidas arregaçaram as mangas e produziram em 2020 a primeira edição do festival de forma on-line e independente. O sucesso foi tanto que contou com espectadores do Brasil e do exterior, além de ter realizado uma campanha de arrecadação de alimentos para artistas de várias periferias de São Paulo.

Foto: Tiago Alexandre (@_tiggaz_)


Agora, após o surto pandêmico, para esta 2ª edição, as cinco produtoras pensaram uma curadoria que prezasse pela diversidade tanto na idealização quanto no corpo artístico, tendo as diásporas negras como ponto de partida. Com isso, o festival teve uma programação de 20 horas de atividades compostas de: discotecagem, shows, oficinas, performances e uma maravilhosa feijoada feita por dona Jandira, criadora do Gula Preta. Foram trocas de afetos, artes, conhecimentos, dengos. Partilhas que fortaleceram e renovaram as energias de quem fez parte dessa grande gira, culminando numa grande roda de samba, que não nos isentou do chamado à responsabilidade individual e coletiva de nos protegermos como bem cantou Ayô Tupinambá “Não deixe a trava morrer, não deixe a trava apanhar / travesti também é gente / você que precisa mudar”. Em uma releitura poderosa do clássico “Não Deixe o Samba Morrer”.

Artistas como Japhet, Lua, Lucy, Zebu, DJ Cobra Residente, Albert Magno, Okofa + Lucas Navarro, Warley Noua, Andarilho Cha, Calllanga, Mana Bella, Luana Galdino, Gê de Lima, Ayô Tupinambá nos entregaram expressões multiartísticas marcantes e carregadas de vida. E é importante ressaltarmos a palavra VIDA, pois como nos disse Valéria Zion (paulistana, produtora executiva do festival) em entrevista, VIDA é o que a Motim Bafro representa para ela. Tendo em vista a perspectiva de morte que a sociedade brasileira tenta a todo custo submeter corpas dissidentes (pretas, indígenas, transgêneres, periféricas, nordestinas), subverter essa perspectiva e transmutá-la em revolta festiva, reexistência e celebração é buscarmos a nossa autonomia através da desobediência.

Foto: Tiago Alexandre (@_tiggaz_)


Não à toa o nome do festival é Motim, que significa “insurreição, organizada ou não, contra qualquer autoridade civil ou militar instituída, caracterizada por atos explícitos de desobediência”. E nas palavras de Mana Bella (baiana, produtora e MC do festival): “Quando eu ouço essa palavra Motim, eu penso em ocupação e tomada de território, de retomada do território, não de tomada porque eu creio que esses espaços já são seus. Em uma sociedade que vive de apropriação cultural e de apropriações de demandas, de narrativas, a Motim vem para mostrar que a gente é diversa, é plural, e a gente não quer ficar numa caixinha. A gente vem pra tomar de assalto mesmo, pra fazer um motim, mostrar quem a gente é”. E para completar o nome do festival também carrega a palavra Bafro, que é um anagrama que faz referência direta à Bahia.

E pensar na Bahia é pensar em inúmeras revoltas, insurreições, conjurações, enfrentamentos em busca de liberdade. É pensar em uma terra que emana ancestralidades. E é por isso que Pimentel, nascida em Caldas do Jorro, interior da Bahia, ao ser perguntada sobre o que a Motim Bafro representa para ela, soltou logo o verbo e disse: “Para mim, numa frase pequena e talvez de efeito, a Motim pra mim é a Bahia em São Paulo, sabe?” e acrescentou: “para mim, individualmente falando, a Motim é a minha Bahia em São Paulo, é o meu Sertão em São Paulo, sabe? E é esse encontro de enxergar as Bahias que existem aqui em São Paulo, né. Dizem que o sertão está em todo lugar. Dizem que o sertão está dentro da gente, e onde é que está o sertão aqui então? [...] E aí, a Motim para mim é o meu afeto, a minha família, é o lugar onde eu quero cada vez mais me experimentar”.

Foto: Tiago Alexandre (@_tiggaz_)


Liberdade de ir e vir, de criar, de construir, de reinventar. São inúmeras liberdades que através da Arte o festival Motim Bafro vem conclamar, reivindicar, rearticular. Tudo isso através de aquilombamento, que na visão de Albert Magno (baiana, produtora e MC do festival) é uma das estratégias importantes para a nossa emancipação. Pois na perspectiva de Albert: “é muito importante ocuparmos os lugares existentes, pois os mesmos nos foram roubados, através do racismo estrutural e do privilégio da branquitude. E ao mesmo tempo, é necessário criarmos nossos próprios espaços, com nossa identidade e cultura genuína, sem interferências”.

Por fim, o que esperar da Motim Bafro daqui para frente? Luana Galdino (paulistana, produtora e MC do festival) nos passa a visão: “A minha perspectiva de futuro pro Motim é a mesma perspectiva de futuro que eu tenho pra Arte, sou tão otimista quanto. É fazer da internet uma aliada, por conta de como os algoritmos tem sido ensinados a se comportar. Não fazer da internet uma vilã. Retomar a força que a gente construiu pelas redes sociais, o que permitiu elos muito fortes, né. E também foi ferramenta de liberdade e libertação, de discussão pra muita gente que esteve com a gente, pra muitos corpos marginalizados. Então, a minha perspectiva pro Motim é essa de expansão absoluta, sabe? Liberdade, Arte, Prosperidade, levar fartura e conhecimento e possibilidades, especialmente para todas as pessoas que tiverem ali. Motim é pra ser, e já é uma experiência artística multicultural muito potente. Expansão, expansão, expansão no mais amplo sentido e significado dessa palavra”.

Nos siga no Instagram para mais conteúdos: @motimbafro

Foto: Tiago Alexandre (@_tiggaz_)

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